1.2.18

Apanho o próximo...

Hoje quando estava a chegar à estação vi-os.
Despertou-me a atenção porque ele se levantou num ápice e percebi que seria para apanhar o comboio do qual eu ía sair.

Mas voltou a olhar para ela e estendeu-lhe a mão que ela agarrou-a e aproveitou para o puxar para si novamente. Ele não se sentou, mas inclinou-se para a beijar. Riram-se depois do beijo e quando eu saí do comboio ele voltou a sentar-se ao lado dela, abraçando-a, desistindo daquele comboio...

Quase que aposto que também não apanhou o seguinte. Quase que aposto porque o meu mundo voltou atrás mil anos. Porque também eu namorei na estação quando o B. vinha de Cascais e eu ficava ansiosa à espera de um comboio que pelo que me parecia, não iria nunca chegar.

Mas chegava. Sempre na mesma carruagem o B. saía. Com aquele estilo de beto rebelde com o qual eu sempre gozei, mas sempre com um sorriso imenso. Éramos simples, ingénuos de alguma forma.

Passeávamos pela praia (quantas vezes íamos a pé até Cascais) e voltávamos.

O B. dizia que tinha de apanhar o comboio e íamos para a estação. Ali ficávamos os dois em namoro, encostados um ao outro e quando a sirene começava a tocar o B. levantava-se decidido a apanhar aquele... mas quando me estendia a mão eu também a agarrava e também a puxava para mim para o obrigar a beijar-me... aquela decisão toda de que tinha de ser aquele comboio, caía por terra, porque ficava novamente sentado ao meu lado a sorrir.  A resposta à minha pergunta "não ías apanhar o comboio?", era invariavelmente (e a rir)"Apanho o próximo"...

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