18.9.06

B.




“Não, não!”- dizia ele enquanto apagava o cigarro. Olhava para mim com aqueles olhos que vão até à alma. “Houve aquela vez em que tentei mesmo entrar, mas não consegui. Tinha ataques de riso à porta e desistia sempre. Acho que era mais nervoso miudinho do que vontade de rir, até porque a situação não tinha piada nenhuma. Sempre que isto me acontece lembro-me de ti. Lembras-te no baptizado da Leonor quando o meu primo João estava a cantar no coro e caiu do banco? Ficou estatelado no chão e só se viam os pés dele no ar a abanar! Tiveste o maior ataque de riso que vi até hoje. Não paravas de rir e escondias a cara no meu colo, no meu ombro… Não teve assim tanta graça, mas tu não conseguias parar. Acho que era porque estavas num sítio em que não te podias rir alto.”
Enquanto isso eu ria-me, ria-me e ele comigo… “é o mesmo…”-continuava ele-“ Só porque me confundiram com um mendigo porque adormeci à porta, depois de uma noitada enquanto esperava pelo Mark, nunca mais consegui não me rir sempre que lá vou…” Reparei nas mãos dele… tantas vezes as agarrei e outras tantas as afastei de mim. São grandes com dedos de guitarrista. Apanhou-me a olhar. Apanha-me sempre a olhar para as mãos dele, sou viciada …corei… “Estou na mesma não estou?”-perguntou com voz de súplica, como se por acaso lhe dissesse que não, apagasse tudo pelo que lutou para se manter genuíno. Isso sei que tanto lhe custou. “Gostava de saber que apesar de tudo, de nós, ainda me vês como me vias no início”… Claro que não! Estás muito mais adulto, com mais histórias, estamos muito mais distantes… “Claro que sim! É só por isso que é tão bom estar contigo assim!”… Pensando bem, não é totalmente mentira.... pensado bem ele continua a ser genuíno em tantas coisas... Pelo menos no que me dá...
Sabe-me sempre, sempre a casa!

1 comment:

Anonymous said...

Já voltei a N.Y. e daqui não sei para onde vou. Também regresso a casa quando estou contigo e sei que é das histórias que temos! Hang on kid! Love you