Para mim o Natal é bom...
É o acordar de manhã e pensar no que vem! É o ir a correr para casa da minha avó'zinha porque há tudo para fazer!
Gosto da forma como me recebe à porta com aquele sorriso como que a dizer:"Ainda bem que chegaste porque é Natal e quero-vos todos junto de mim"!
Depois são as ordens da matriarca sobre aquilo que tenho que fazer: pôr a mesa e distribuir os lugares colocando os cartões com os nomes de cada um,(previamente desenhados pelos meus primos pequeninos), acender as velas, preparar as jarras e acender a lareira!
Não páro até tudo estar pronto... e começam a chegar os do costume, os da casa, aqueles que já não imaginamos estar sem... São os casacos e a confusão de quem chega do frio para o calor de uma casa que é de todos, porque sem eles não se poderia considerar como tal!
Há a cozinha... cheia com as panelas do bacalhau, das batatas e das verduras... e os que se sentam para conversar, para dar abraços espontâneos e dar gargalhadas... Vem o sentar à mesa depois de um tempo largo... São as histórias antigas, as situações caricatas passadas com os "jovens adultos"... são os olhares cúmplices daqueles que são os melhores amigos e sabem o que as palavras não dizem!
Passamos à sala já pertinho da meia-noite... o meu tio faz os cafés e vamo-nos aninhando pelos sofás, poltronas, puffs e chão... De repente alguém diz: "Já nasceu! Já é meia-noite"! Toca o meu telemóvel e uma vozinha meiga e sonolenta diz do outro lado, como se estivesse agarrada ao meu pescoço e me dissesse ao ouvido: "Mamã!O menino Jesus nasceu e vamos cantar os Parabéns! Feliz Natal e muitos beijinhos!"... e eu sorrio e volto para o calor da lareira... há anos que sou eu quem distribui os presentes que se acumulam aos pés da árvore numa mistura de cores, laços e formas... Sento-me e chamo o meu mano que me ajuda... Vem o barulho do papel a rasgar-se, dos "Obrigado/a", do "Como é que adivinhou?",... Vêm os beijinhos de agradecimento lançados para o ar e a animação das conversas em paralelo!
Quando acaba já é tarde e há os que têm de ir... prolongam-se as despedidas no hall enquanto os casacos se vestem e fica um braço eternamente pendurado porque a outra manga não se veste, de tão entretido que está o resto do corpo numa notícia de última hora!
Quando sai o último e em casa fica a minha avó, a minha mãe e o meu tio... eu vou para a sala e é aí que fecho os olhos e repasso todo o dia, como que a tatuar em mim cada pedacinho do que foi, porque é sempre irrepetível e único e maravilhoso!
É aí que me vêm as lágrimas porque apesar de estarmos todos falta o avô! O MEU avô... aquele Senhor que se sentava à cabeceira da mesa e se ria das histórias com o seu amigo Renato, aquele que me olhava para ver se eu estava a comer tudo, que me sorria porque me via crescer... aquele que na altura em que desembrulhava o presente que me dava (livros normalmente) me olhava nos olhos e me pedia para lhos emprestar, porque assim podíamos discuti-los depois... Era o meu avô que nesta hora em que me sento frente à lareira e fecho os olhos, vinha e me levava à varanda, me abraçava porque estava frio e porque para ele eu sempre fui frágil... olhava para o Céu e dizia: " O Céu é a única certeza que temos de que estamos juntos, porque todos em qualquer parte o vemos"... acabava a recitar comigo algum poema que tivessemos lido no dia anterior...
A minha mãe interrompe-me os pensamentos quando diz"Filhota, vamos que está na hora"!... Eu levanto-me apago as velas e as luzes enquanto atravesso a sala... abraço a minha avó'zinha já na porta e agradeço-lhe... Sei que sabe aquilo em que penso e o abraço fica mais forte! Sei que também sente a sua falta avô, mas que também o sabe presente principalmente no Natal que era a sua data favorita!
Desço as escadas calada... já na rua olho para o Céu, para a Lua e digo mais uma vez "que tenho saudades, que foi bom, que estou com a alma cheia, que gosto do Natal"... sorrio para a minha mãe e penso: "Amanhã há cacau quente ao acordar... Porque é sempre assim no dia 25 de manhã e é bom que seja sempre assim"!
=D
No comments:
Post a Comment