16.9.11

A ti...

Ando há quinze dias a tentar despedir-me de ti.
Soube há quinze dias que tinhas partido.
O momento do telefonema da Mariana a chorar não me sai da cabeça. Sabes, disse imensas vezes que não podias ser tu. Tinha de haver algum engano... "Qual Gonçalo???"... "o teu Jana"... "o meu? Não... é outro, disseram-te mal, não pode ser o Gonçalo"...e ela chorava... e a determinada altura acho que lhe disse que sim, só porque precisava de desligar o telefone.
Estava no Algarve a trabalhar... sei que fiz o que tinha a fazer em menos de 2h e vim para cima... no processo ligavam-me porque achavam que ainda não sabia, ou porque precisavam de confirmar... O Zé de Angola que me disse de imediato que já tinha voo para o dia seguinte, a Catarina... ai...
Não me lembro da viagem para cima. Não me lembro de ter chegado, só quando a Mariana me abriu a porta de casa.

Chorei e deixei de chorar... não dormi...

Trabalhei de manhã e felizmente o Zé chegou porque senão tinha sido indiscutivelmente mais difícil. Fui buscá-lo, almoçámos e tentámos não falar em ti, porque faltava vivermos tudo ainda.

Fomos um do outro uma altura das nossas vidas. A história começou num paraíso. Ditaste os nossos tempos todos, até que um dia assumi eu o comando, pus os pés à parede e acabou-se... mas amei-te muito e tu sabes que sim.

Sei que ficaste com uma mágoa grande. Um ano sem me falares... até que quebrámos o gelo.

Uma semana e meia antes de ires embora tive um impulso de te convidar para café. Conheci a tua casa nova, vi as fotografias e os filmes do casamento do teu irmão... Não chegaste a conhecer a minha casa, não cheguei a dizer-te tanta coisa...

Um mundo de coisas que não te disse e um universo do que ainda não te consigo dizer...

Rever os teus pais, os teus tios, irmão, amigos... as nossas pessoas... não é suposto... a lógica não pode ser deste mundo, porque se fosse eu entendia.

A lógica é outra, o propósito é outro... e ainda não consigo parar de pensar no porquê... e não deve haver... e se aqui estivesses ías dizer-me isso mesmo, entre um abraço e uma festinha na cabeça: "pára de perguntar. Que mania de teres de entender tudo, há coisas que não se controlam, pronto! Vai viver..."

Como a oração de Sto. Agostinho de que tanto gostavas...

"A morte não é nada. Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu. O que fomos um para o outro ainda somos.Dá-me o nome que sempre deste. Fala-me como sempre me falaste.Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa como sempre se pronunciou.Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou:Continua sendo o que era.
O cordão da união não se quebrou.Porque eu estaria fora dos teus pensamentos, apenas porque estou fora da tua vida?
Não estou longe,somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem.
Redescobrirás o meu coração, e nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca as tuas lágrimas e se me amas, não chores mais."

(Sto. Agostinho)

.. já te prometi que secaria... mas não me ponhas prazos...




Sempre tua... sempre nossa! You're the top!